Minha Experiência de Serviços de Internet no Brasil: Introdução

Eles bloqueiam arbitrariamente as portas de escuta, liberando você de sua liberdade de interagir com outros usuários da Internet como desejar. Tentar cancelar o serviço de um ISP é sinônimo de declaração de guerra. E eu suspeito fortemente que eles também se envolvem em outras travessuras mais sinistras. [English]

Há muitas coisas boas e louváveis que posso dizer sobre o Brasil. Mas, pela minha experiência, seus provedores de serviços de Internet [ISPs] se deterioraram no que é, sem dúvida, seu pior anúncio e um prejuízo significativo para seu desenvolvi­mento contínuo.

A premeira coisa devo falar é que, através dos 18 anos que morei no Brazil, minha conexão a Internet estava extremament decomfiável e sujeito de falhar a qualquer momento.

Estou posicionado não muito longe do centro de uma conurbação de cerca de 3 milhões de pessoas. No entanto, o melhor serviço de Internet (conhecido aqui como bandalarga ou Velox) que consegui obter me dá uma velocidade de download de 90 Mbps e uma velocidade de upload de 40 Mbps, com um bloqueio total em todos os pacotes IP de entrada não solicitados: i.e. todas as minhas portas de escuta estão bloqueadas. Minha conexão com a Internet é surda. E o ISP se recusa categorica­mente a abri-los, apesar de esse bloqueio ser contrário ao Marco Civil da Inter­net e às práticas sugeridas pelo Grupo Consultivo Técnico de Internet de Banda Larga.

Francamente, no ano de 2022, eu esperava melhor. As velocidades não me in­comodam. Eles são perfeitamente adequados para as minhas necessidades. Mas as portas bloqueadas certamente me incomodam. Todos os ISPs, que poderiam me fornecer um serviço, seguem a mesma linha. Todos eles bloqueiam todas as portas de escuta. Então, como um mero cliente, ou eu tenho que gostar do que me dão, ou não gosto. Para mim, essa atitude arrogante é inaceitável. Daí esta série de artigos.

O Conceito de Internet

A Internet fornece um caminho para a troca de arquivos entre computadores term­inais que são distribuídos em todo o mundo. Todos os computadores na Internet são pares de tamanho e poder de processamento variados, mas com direitos de acesso e status iguais.

A Internet existe para facilitar a troca livre e aberta de arquivos entre todos. O con­teúdo pretendido dos arquivos é principalmente intelectual. Exclusivismo e segur­ança não são, portanto, uma preocupação. Consequentemente, a Internet não se presta prontamente ao comércio e ao negócio.

É claro que o comércio já invadiu a Internet há muito tempo. Mentes não-técnicas sobrepujaram o bom senso, entrando de olhos arregalados e sem pernas em emp­re­endimentos sem pensar um momento nas ramificações do que estavam fazendo, ignorando conselhos qualificados. Os resultados catastróficos falam por si, embora as más consequências sempre recaiam diretamente sobre os ombros do indivíduo iso­lado impotente, e não sobre os dos perpetradores corporativos.

Uma Conexão à Internet

Uma conexão à Internet bona fide me fornece, como usuário, um caminho de trans­missão e recepção de dados simétricos baseado em IP [Internet Protocol] de uma velocidade pré-definida, expressa em bps [bits por segundo], através do qual posso:

  1. baixar e visualizar, à vontade, arquivos disponibilizados por terceiros,
  2. disponibilizar arquivos para outros baixarem à vontade,
  3. enviar e-mails para outras pessoas [possivelmente com arquivos anexados]
  4. receber e-mails de outras pessoas [possivelmente com arquivos anexados]

Todos os itens acima devem ser alcançáveis por meio de interação direta ponto a ponto sem a necessidade de um intermediário ativo. É claro que a Internet contém necessariamente roteadores nodais intervenientes. Não obstante, estes não devem de forma alguma bloquear, desviar, escrutinar, gravar ou modificar o conteúdo dos pacotes de dados peer-to-peer.

Os itens (1) e (2) acima devem ser alcançáveis através de uma variedade de proto­colos como HTTP, HTTPS e FTP, além de qualquer outro protocolo universal que eu deva escolher, como eDonkey ou Gnutella. O item (2) é essencial para que eu possa deixar os arquivos prontos para os colegas pegarem se e quando assim o dese­jarem. Os itens (3) e (4) usam qualquer proto­colo de e-mail universal que seja con­veniente para meus colegas e para mim.

Os itens (2) e (4) requerem portas de escuta. Essas são portas de endereço dentro do meu computador nas quais programas de execução livre [geralmente chamados daemons] escutam solicitações de entrada para operações de transferência de dados. Para atender aos meus requisitos, preciso que as portas padrão 21, 25, 80 estejam abertas para escuta. Também preciso de quatro portas de escuta acima de 4096, embora seus números possam ser redefinidos arbitrariamente de tempos em tempos. Mas sem acesso à minha área de configuração do modem não consigo abrir essas portas no meu serviço Claro NET.

O conteúdo de um arquivo pode ser texto, áudio, vídeo ou qualquer outro tipo de conteúdo que eu deseje enviar ou receber. No lugar do termo 'arquivo' pode-se substituir 'stream' por áudio e vídeo em tempo real. No entanto, a praticidade disso depende da velocidade prescrita da minha conexão com a Internet.

Se eu desejar que o conteúdo de um arquivo que estou enviando para uma deter­minada pessoa seja protegido contra interceptação e leitura por outras pessoas, terei o direito inalienável de criptografá-lo com um método de criptografia forte, como PGP. Para isso, crio e criptografo o arquivo usando um computador off-line. Então, quando terminar, transfiro o arquivo criptografado para um computador on-line por meio de um cartão de memória para envio. Eu faço o mesmo ao contrário para receber um arquivo criptografado.

Para poder atender aos requisitos acima, uma conexão bona fide à Internet forn­ecida por um ISP deve ter as seguintes especificações mínimas necessárias e sufi­cientes:

  1. Endereço IP fixo IPV4 ou IPV6
  2. Full duplex: os dados podem fluir na mesma velocidade em qualquer direção.
  3. Velocidade de transferência de dados ≥ 2 Mbps
  4. Todas as portas fechadas para escuta por padrão, mas abertas seletivamente pelo usuário.

Essa especificação é necessária se, conforme determina o Marco Civil da Internet, todos os usuários devem ser tratados da mesma forma, com exceção da velocidade de transferência de dados, que é definida de acordo com o preço pago pela con­exão.

Eu especifiquei full duplex porque, com o advento da computação em nuvem e do backup, o fluxo de dados assimétrico não é mais a norma. Agora está muito mais equilibrado.

É necessário fornecer uma ampla gama de velocidades para que, embora usuários de alto consumo, como sites vastos, possam ter uma taxa de transferência contrat­ada muito alta, possa haver uma variedade de opções de conexão totalmente fun­cionais de nível de entrada progressiva [de preferência incluindo uma gratuita] para que ninguém seja excluído digitalmente.

Para facilitar a interação direta total entre os usuários da Internet, é vital que o usuário tenha controle total das portas de escuta, com meios simples e facilmente compreensíveis de selecionar as portas de escuta de acordo com a finalidade.

Sobre o Endereçamento IPV6

Minha preocupação nesta introdução é que meu serviço de acesso à Internet implemente os requisitos do Marco Civil da Internet sobre IPV4. Isso ocorre porque, no momento [quarta, 30 de novembro de 2022 07:33:38 -03], a grande maioria da atividade da Internet é exclusivamente em IPV4. O número de usuários operando — ou mesmo capazes de operar — no IPV6 neste momento é uma minoria minúscula.

O IPV4 é fundamental para o funcionamento da socioeconomia neste momento. Qualquer pressão dos ISPs para forçar uma migração para IPV6 será catastrófica. Não é possível funcionar na Internet usando IPV6 sozinho: não a menos que você interaja exclusivamente dentro de um grupo privado fechado de usuários. Obviamente, os ISPs são grandes corporações e, portanto, têm o poder de aplicar essa força. Segue-se a catástrofe. Mas apenas para membros da maioria irrele­vante. Então não importa. Para evitar perturbações socioeconômicas — ou mesmo colapso — qualquer mudança para IPV6 deve ser um processo paralelo de longo prazo: não um ultimato unilateral repentino imposto pelos ISPs.

Eu testemunhei essa abordagem arrogante no Brasil para a adoção de novas tecnologias, entrando de olhos arregalados e sem pernas, queim­ando as pontes da velha tecnologia enquanto avançam, sem pensar um momento nas ramificações do que estão fazendo. Isso é especialmente relevante quando se trata de considerar a situação de usuários menos capazes, como idosos e deficientes. Não obstante, os afetados geral­mente não têm voz ou poder para combater ou frear esse rolo compres­sor de falso progresso.

Um excelente exemplo do que foi dito acima foi quando o ISP Oi me deixou sem conexão com a Internet em outubro de 2022. A Oi decidiu abandonar o serviço de Internet ADSL e migrar para a entrega de fibra ótica. Com isso, a Oi encerrou arbitr­ariamente meu serviço ADSL em 03 de agosto de 2022. Depois de muitas reclam­ações, a Oi o restabeleceu de forma intermitente até cortar meu sinal definitiva­mente em 21 de setembro de 2022, deixando-me totalmente sem serviço de Inter­net. Nessa época, a Oi não tinha nem fibra ótica disponível na minha rua e não deu data de quando estaria disponível. No dia 14 de outubro, um técnico da Oi apare­ceu no meu prédio e disse que poderia instalar meu serviço de fibra ótica. Acabara de ser descoberto pelo ISP Blink que não havia maneira física de instalar cabo de fibra ótica em meu prédio. Então eu ainda estava totalmente sem serviço. Foi quando contratei a Claro NET, que já tinha um serviço coaxial no prédio.

Um endereço IPV6 fixo pode ser alocado para cada nó folha [computador terminal] na Internet. Isso praticamente eliminaria as atividades maliciosas na Internet, pois a origem de qualquer contravenção seria imediatamente identificada e localizada.

As experiências que realizei com meu atual serviço Claro NET verificam se pelo menos algumas das portas de escuta de que preciso estão abertas no IPV6. Con­segui interagir com servidores IPV6. Por esse motivo, espero que a Claro NET possa argumentar que tenho portas abertas no IPV6, portanto, migrando para o IPV6, minha reclamação será amenizada.

Não obstante, meu ouvinte continuava travando, o que me levou a suspeitar que meu endereço IPV6 era alocado dinamicamente e alterado com frequência, embora o mesmo endereço fosse realocado todas as vezes. Isso é um absurdo. Um end­er­eço IPV6 deve ser fixo e estável. Esse é o ponto principal. E é isso que meu ouvinte espera com razão. De qualquer forma, o número de pares operando — ou mesmo capazes de operar — no IPV6 foi considerado muito pequeno e distante entre si. E, claro, nenhum deles era um par que pertencia a algum dos meus colegas ao redor do mundo: eles estão todos no IPV4.

A prática dos ISPs de forçar os clientes a fazer uma mudança imediata para o uso exclusivo do IPV6 para atividades que requerem portas de escuta abertas é uma forma muito perturbadora de exclusão digital instantânea. Foi isso mesmo que sofri quando, no meio de um projeto, fui subitamente cortado da Internet pela Oi e depois ao mudar para o Claro NET, descobrindo que as portas de escuta abertas só estavam disponíveis no IPV6.

Governado Por um Marco Civil

A conexão à Internet bona fide descrita acima é o que eu solicito e exijo do meu provedor de serviços de Internet [ISP]. Pelo que pude entender em minha pesquisa, minha exigência não conflita com a legislação brasileira sobre o assunto, a saber, LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014, que está bem exposta em inglês no arqu­ivo PDF: Brazil's Internet Bill of Rights: A Closer Look.

A LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014 me parece bem redigida, embora não tenha encontrado nada que pudesse chamar de uma definição concreta mínima necessária e suficiente de uma conexão bona fide à Internet como descrevi acima, embora ' Marco Civil: CAPÍTULO I: DISPOSIÇÕES PRELIMINARES:' afirma:

"Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes prin­cípios:
...
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;"

Um excelente exemplo de tais padrões internacionais e melhores práticas é o resumo publicado das Recomendações das Práticas Sugeridas do Broadband Inter­net Technical Advisory Group, que afirmam:

  1. Os ISPs devem evitar o bloqueio de portas, a menos que não tenham alternativas razoáveis disponíveis para evitar tráfego indesejado e proteger os usuários.

  2. Os ISPs que podem fornecer a seus usuários cláusulas de exclusão ou exceções às suas políticas de bloqueio de portas devem fazê-lo.

  3. Os ISPs devem divulgar publicamente suas políticas de bloqueio de portas.

  4. Os ISPs devem fornecer canais de comunicação para feedback sobre as políticas de bloqueio de portas.

  5. Os ISPs devem revisar suas políticas de bloqueio de porta regularmente e reavaliar se as ameaças que exigem regras de bloqueio de porta perman­ecem relevantes.

  6. As regras de bloqueio de portas (ou firewall) para dispositivos de consumo devem ser configuráveis pelo usuário.

Eu gostaria de ver o acima explicitamente incluído no Marco Civil da Internet.

Na situação atual da minha conexão com a Internet, meu ISP atual, Claro NET, não im­plementa nenhum dos 6 pontos acima. A flagrante desobediência às exigências legais por parte dos ISPs no Brasil, somada ao custo proibitivo de litígio para o usuário individual, faz com que a LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014 seja aderida voluntariamente apenas na Terra das Fadas. No que diz respeito ao mundo real, ele deve ser aplicado pelo usuário por meio de um órgão fiscalizador do governo.

O Curso Médio Atual

Atualmente, nem todos são tratados da mesma forma. A grande maioria se vê extremamente prejudicada quanto aos direitos que lhe foram conferidos pelo Marco Civil da Internet. A conexão de Internet viável típica de hoje fornece o seguinte:

  1. Um endereço IP dinâmico [somente IPv4]
  2. Todas as portas abertas para escuta, exceto conforme escolhido pelo ISP.
  3. Fluxo de dados assimétrico com velocidade de upload de ¼ a ½ de download.
  4. Velocidade de download de dados ≥ 100 Mbps.

Um endereço IP dinâmico é um endereço IPV4 que é alocado periodicamente pelo ISP ao usuário. A razão dada para isso é a chamada escassez de endereços IP, com a implicação de que simplesmente não há endereços IPV4 suficientes para que todos tenham um em um determinado momento. Por outro lado, a maioria dos ISPs solicita que os usuários mantenham seus modems/roteadores ligados o tempo todo. Diz-se que uma razão para isso é que o ISP pode atualizar o software do roteador remotamente quando quiser.

Mas se o modem/roteador de todos estiver sempre ligado, ele deve ter um end­ereço IP dinâmico alocado. Portanto, todo usuário deve ter um endereço IP din­âmico simultaneamente. Portanto, deve haver o suficiente para que cada usuário tenha um ao mesmo tempo. Então, por que não dar a todos um endereço IPV4 fixo? Não pode ser por falta de endereços IP, caso contrário, muitos usuários seriam pegos sem um — pelo menos nos horários de pico de uso, como 11h em qualquer dia útil. E isso não parece acontecer.

Além disso, a alocação dinâmica de endereços IP para usuários finais existe há muito tempo — muito antes da noção de esgotamento de endereços IP. Antes de 2004, eu tinha uma conexão discada à Internet. Com isso, o IP dinâmico é essencial porque um endereço IP só é relevante para mim enquanto estou discado. No en­tanto, desde 2004, quando passei para uma conexão coaxial permanente, a aloc­ação dinâmica de IP continuou. Naquela época, havia muito menos pessoas usando a Internet do que em 2022. Consequentemente, o motivo para receber um ender­eço IP dinâmico em vez de um fixo não pode ter sido devido à falta de endereços IPV4.

Outra desculpa é que, embora o endereço IPV4 de 32 bits tenha capacidade num­érica para que todos tenham um no momento, esse número de 32 bits não é simplesmente um rótulo. Ele contém informações geográficas sobre a localização do usuário. Sim, originalmente tinha. Mas entendo que não é mais assim. Agora é apenas um rótulo, os aspectos geográficos da construção de uma rota para ele agora estão incorporados em um software de roteador de backbone mais complexo. Daí o impulso para endereços IPV6, que têm capacidade numérica suficiente para incorporar informações de roteamento geográfico.

Existem técnicas usadas na navegação [como a construção de uma lista ideal de pontos de passagem para uma rota aérea] que aliviariam a necessidade de um endereço IP conter informações de roteamento geo­gráfico. O próprio endereço IP poderia permanecer simplesmente um rót­ulo identificando um destino na Internet. Tudo isso exigiria que a latitude e a longitude do roteador de borda do destino fossem conhecidas, o que poderia ser obtido por uma simples pesquisa.

Percebo através de meus recursos de monitoramento que meu endereço IPV4 alocado dinamicamente muda arbitrariamente de tempos em tempos, mesmo dur­ante uma sessão: ou seja, durante qualquer período contínuo em que meu roteador esteja ligado. Qualquer endereço IP específico é, portanto, 'alugado' para mim por um período arbitrariamente especificado. No final deste período de 'locação', atribuo-me outro. E assim por diante. Por que fazer isso? Por que não me deixa com o mesmo endereço? Por que não me dá um fixo?

Eu imploro para sugerir que o motivo dessa ladainha complicada não tem nada a ver com a escassez de endereços IPV4. Acho que só pode ser uma man­obra para interromper qualquer tentativa de um usuário comum [não comercial] de configurar daemons em seus computadores que possam 'escutar' as solicitações recebidas. Isso funciona porque, mesmo que o usuário tenha portas de escuta abertas, não adianta ninguém enviar um pacote não solicitado ao computador de um colega se não souber qual é o endereço IP atual desse computador [porque ele pode mudar sem avisar a qualquer momento]. Assim, pelo menos em princípio, a PI dinâmica viola o Marco Civil da Internet.

Como os pacotes não solicitados não podem ser enviadas para o computador de um usuário porque o originador não pode saber o endereço IP atual do com­putador do usuário, não faz sentido ter portas de escuta abertas para servidores padrão, como HTTP, HTTPS, SMTP, FTP etc. no roteador de distribuição [ou borda]. O ISP também fecha as portas que são usadas apenas para operações relevantes dentro do mesmo computador do usuário ou rede local, o que é razoável, mas desneces­sário.

Felizmente, programadores hábeis, em vários momentos, conseguiram criar meios de contornar essas restrições ilegais impostas pelos ISPs. A evasão é feita por cada participante em uma comunidade de comunicação peer-to-peer sendo alocado o que é chamado de 'ID de sessão' [identificador de sessão]. O ID da sessão é constante durante uma sessão de conexão em uma comunidade ponto a ponto com um servidor de referência central ou um fluxo de pacotes de sinalização circulando continuamente para notificar qualquer ponto sobre o endereço IP atual de qualquer outro ponto. No entanto, é uma sobrecarga confusa e que consome recursos que não deveria ser.

No entanto, para que estes possam funcionar de forma que qualquer peer possa atender requisições de outros, esse peer deve ter pelo menos uma porta de escuta aberta. Não precisa ser nenhuma porta padrão específica porque seu número é fornecido no handshake inicial no qual o 'ID de sessão' desse par é alocado. Como a maioria dos ISPs deixa ao usuário a opção de abrir a maioria das portas de escuta não padrão, a especificação de acesso à Internet 'comprometida' acima é pelo menos viável.

Os ISPs com os quais tive experiência direta ainda usam fluxo de dados assimétrico. Ou seja, a velocidade de upload é apenas uma fração da velocidade de download. Isso era realmente adequado nos dias em que a atividade da Internet para o usu­ário final era principalmente acessar sites. Uma pequena quantidade de up-data na forma de uma solicitação HTTP precipitou uma quantidade muito maior de down-data; ou seja, o conteúdo da página da web. No entanto, com o advento da com­putação em nuvem e outras atividades legítimas da Internet, esse não é mais o caso. O tráfego para cima e para baixo é muito mais equilibrado. Assim, o fluxo de dados duplex original retornou como o regime mais apropriado.

Claro, as velocidades de transferência de dados aumentaram tremendamente. Isso é bem-vindo. Mas, pelo menos para mim, não é de importância fundamental. O que importa em uma conexão com a Internet são as funcionalidades necessárias e sufi­cientes especificadas pelo Marco Civil.

Minha Frustração Atual

Infelizmente, recentemente me cadastrei inadvertidamente em um serviço da Claro NET, que me fornece o seguinte:

  1. Um endereço de Internet dinâmico como um endereço dinâmico de sub-rede.
  2. Todas 65535 portas de escuta bloqueadas pelo ISP. Minha conexão é surda.
  3. Fluxo de dados assimétrico: velocidade upload de cerca de ½ de download.
  4. Velocidade média de download de dados de cerca de 90 Mbps.

Não posso fazer um julgamento definitivo, mas certamente me parece estar em flagrante violação dos requisitos do Marco Civil da Internet.

A Triste Realidade

Tenho conexão com a Internet no Brasil desde que cheguei em 2004. No entanto, o tipo de conexão que consegui assinar atendeu às minhas necessidades por apenas 4 anos de 2008 a 2012. Apesar disso, acho que isso, juntamente com meu aparent­emente endereço IP fixo, foi realmente devido a um descuido técnico dos técnicos do ISP.

O problema central singular com os serviços ISP no Brasil são as portas de escuta bloqueadas. Isso me parece uma flagrante desobediência do Marco Civil da Inter­net: Seção I: Da Neutralidade de Rede:

Art. 9º O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação.
...
§ 3º Na provisão de conexão à internet, onerosa ou gratuita, bem como na transmissão, comutação ou roteamento, é vedado bloquear, mon­itorar, filtrar ou analisar o conteúdo dos pacotes de dados, respeitado o disposto neste artigo.

Mas os ISPs são corporações muito grandes e, ao que parece, são capazes de fazer isso com impunidade.

Ao longo dos anos, esta situação tem vindo a agravar-se cada vez mais, tornando-se cada vez mais restritiva para o utilizador individual da Internet. No início, apenas algumas portas de escuta padrão foram bloqueadas. Isso foi presumivelmente para impedir que as pessoas criem sites comerciais e, assim, obstruíssem as conexões de baixa velocidade com tráfego pesado. Mais tarde, todas as portas foram bloque­adas para escuta, mas consegui configurar meu modem para abrir qualquer uma, exceto certas portas de escuta padrão. Por fim, meu atual ISP, Claro NET, não me permite nem acesso à área de configuração do meu modem para abrir nada. Todas as portas estão permanentemente bloqueadas para escuta. Assim, os requisitos (2) e (4) acima são impossíveis de implementar na forma peer-to-peer.

A maioria dos usuários da Internet não interage diretamente uns com os outros. Eles foram, em massa, manipulados indutivamente para corresp­onder apenas por meio de vastos servidores da web, e-mail e mídia social, onde suas interações podem ser monitoradas e analisadas para o benefício exclusivo dos proprietários corporativos desses servidores. Conseqüente­mente, a maioria dos usuários não precisa de portas de escuta abertas. Mas há pessoas, como eu, cujo uso legítimo da Internet requer interação direta entre pares. Não concordo com a ideia de que, porque uma maioria opta por não exercer um determinado direito, ele pode ser arbitrariamente removido de todos por interesses corporativos não eleitos, porque é para sua vantagem comercial e porque eles têm força para fazê-lo.

Mas com as velocidades muito altas fornecidas hoje pelos cabos de fibra óptica, quais poderiam ser as razões para essas restrições draconianas impostas ao usu­ário individual da Internet? Um candidato poderia ser a pressão comercial extrema das indústrias globais de cinema e música para remover meios que poderiam ser usados por indivíduos para contornar a compra de conteúdo baixando-o por meio de redes peer-to-peer. Uma preocupação válida, mas válida a solução não é. Não é legítimo frustrar os atos de alguns criminosos tirando a liberdade de todos. É um caso de American Carpet Bombing: "Não importa o genocídio colateral, contanto que pegue­mos os poucos bandidos".

A outra desculpa, claro, é o antiterrorismo. Para evitar que alguns terroristas se comuniquem direta e privadamente para planejar ataques, vamos impedir que todos se comuniquem direta e privadamente. Inválido. Talvez a pergunta pertinente seja por que os terroristas são terroristas em primeiro lugar. Então aja para remover seu motivo compreensível para ser assim. Se os ISPs estão preocupados com o uso in­devido da Internet por parte dos clientes, eles devem perceber que o uso ad­equado e atencioso de qualquer coisa envolve a prática de boas maneiras por todos. E você não pode legislar boas maneiras: elas só podem ser imbuídas através da educação universal.

Assim, meu uso da Internet ao longo dos 18 anos que estou no Brasil foi pre­judicado pelas restrições draconianas – e eu aposto, ilegais – impostas à minha con­exão por ISPs. A chamada 'conexão' fornecida pelo meu atual ISP, Claro NET, não é, em seu estado atual, muito útil para mim no propósito para o qual a comprei.

A Analogia do Telefone

Provavelmente, a melhor maneira de explicar o efeito das portas de escuta bloque­adas é fazer uma analogia entre a Internet e o sistema convencional de telefonia pública, que é mais fácil de entender.

Posso fazer uma ligação telefônica direta para um amigo. Eu disco o número dele. O telefone dele toca. Ele responde. Conversamos e depois encerramos a conexão. Isso exige que, embora não esteja em uma chamada no momento, o telefone de meu amigo esteja continuamente, de fato, "escutando" as chamadas dos telefones de outras pessoas.

Com bona fide conexões com a Internet, um programa em meu computador pode enviar um pedido não solicitada diretamente a um programa no computador de meu amigo para atualizar sua cópia de um arquivo que acabei de alterar em meu computador para que sua cópia esteja sempre atualizada. Isso exige que o pro­grama no computador do meu amigo esteja sempre "escutando" esses pedidos não solicitados. Precisa de ouvidos. Em outras palavras, ele precisa estar escutando em uma porta de escuta aberta. Se o ISP fechou todas as 65535 portas de escuta em algum lugar acima da linha em um local inacessível ao usuário, então o pro­grama no computador do meu amigo nunca será capaz de "ouvir" a pedido en­viada pelo programa no meu computador para atualizar seu cópia do arquivo.

Mesmo com as portas de escuta fechadas, meu amigo e eu, entre nós, podemos atualizar sua cópia do meu arquivo. No entanto, o processo é complicado e não pode ser feito em tempo real. E se a tarefa conjunta, na qual meu amigo e eu esta­mos envolvidos, exige que nossas cópias do arquivo sejam mantidas sincron­izadas em tempo real, não podemos fazer nosso trabalho. Essas tarefas podem ser tão diversas quanto reserva de passagens e rastreamento por satélite.

Isso é análogo a um serviço telefônico no qual um telefone não pode "escutar" chamadas. Se eu ligar diretamente para meu amigo, o telefone dele não tocará porque não saberá [ouvir] quando estou ligando. Então o que eu posso fazer? O sistema telefônico fornece a todos um serviço de atendimento de chamadas, que grava qualquer chamada feita a uma pessoa para que ela possa, talvez uma vez por dia, discar para o serviço de atendimento para ouvir as mensagens deixadas para eles pelos chamadores. Mas a pessoa não pode ser chamada diretamente. O sistema não oferece suporte a chamadas telefônicas ponto a ponto em tempo real.

Obviamente, isso seria muito inconveniente. Para todos os efeitos práticos, seria impraticável. Isso também significa que as conversas de todos, em vez de serem diretas ponto a ponto, são gravadas — e talvez até arquivadas — em um serviço de atendimento central. Obviamente, aqui eles são menos privados e podem ser mon­itorados [ouvidos] por um terceiro estatal ou corporativo.

Da mesma forma, com portas de escuta bloqueadas, eu poderia enviar meu arquivo atualizado para meu amigo como um anexo de e-mail. Mas não posso enviá-lo diretamente do meu computador para o computador dele porque o computador dele não pode receber uma conexão de e-mail não solicitada na porta 25, que está bloqueada. Portanto, devo enviar o e-mail por meio de um grande servidor de e-mail corporativo, onde ele deve verificar, talvez uma vez por dia, se alguém deix­ou algum email para ele. Aqui, novamente, o que é enviado a ele é registrado — e talvez até arquivado — em um servidor corporativo central, onde, obviamente, é menos privado e pode ser monitorado [lido] por um terceiro estatal ou corporativo.

E os Endereços IP Dinâmicos?

O Marco Civil da Internet [LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014] define um end­ereço de protocolo de Internet [IP] da seguinte forma:

III — endereço de protocolo de internet (endereço IP): o código atribuído a um terminal de uma rede para permitir sua identificação, definido seg­undo parâmetros internacionais; — Marco Civil da Internet Art 5

Para mim, o termo "parâmetros internacionais" é uma qualificação nebulosa. Este adjunto é uma tentativa de dizer que o endereço IP é o código atribuído a um terminal em uma rede para permitir sua identificação: mas apenas de vez em quando? Em outras palavras, o endereço IP que identifica qualquer terminal espec­ífico agora pode não fazê-lo em, digamos, uma ou duas horas. Assim também a adição do qualificador “definido de acordo com parâmetros internacionais”, por implicação tortuosa, permite legalmente a prática da atribuição dinâmica de ender­eços IP a terminais.

Mantendo a analogia do telefone, um endereço IP dinâmico é análogo à companhia telefônica que altera arbitrariamente meu número de telefone a cada minuto ou mais, o tempo todo em que não estou realmente envolvido em uma chamada tele­fônica. Consequentemente, nenhum chamador jamais saberá qual é o meu número de telefone no momento. Assim, ele nunca saberá que número discar quando quiser me ligar.

Não obstante, sempre posso discar para minha secretária eletrônica para ver se ele gravou alguma mensagem para mim. Ele sempre pode se conectar ao meu serviço de atendimento no servidor corporativo do serviço de atendimento porque o serv­idor corporativo do serviço de atendimento sempre pode "escutar" as chamadas recebidas.

Da mesma forma, o programa no meu computador não pode enviar um pedido não solicitada ao programa no computador do meu amigo porque ele nunca pode saber qual é o meu endereço IP em um determinado momento. É passível de ser alterado arbitrariamente a qualquer momento pelo ISP. Isso significa que, mesmo que eu tenha portas de escuta abertas, o programa no computador do meu amigo ainda não pode receber um pedido não solicitada de atualização de arquivo do programa no meu computador. Estamos bloqueados de todas as maneiras.

Existem protocolos complexos que podem contornar o problema de endereços IP dinâmicos. Eles funcionam porque ambas as extremidades recebem um número de ID de sessão no aperto de mão inicial no início de uma sessão de comunicação. Não obstante, tais protocolos não podem contornar o problema causado pelo bloqueio de todas as 65535 portas de escuta, como no caso do meu ISP atual, Claro NET.

Conexão à Internet Non Bona Fide

Endereços IP dinâmicos com portas de escuta bloqueadas não são — e nunca foram — a maneira como a Internet foi projetada para funcionar. Tampouco, pelo que entendi, a disponibilização de tal conexão de Internet a um cidadão atende aos requisitos mínimos necessários e suficientes do Marco Civil da Internet.

Na minha opinião, já é hora de a lei ser aplicada – mesmo sobre os invencíveis e inexpugnáveis provedores de serviços corporativos de Internet, que atualmente parecem ser capazes de desrespeitar a lei impunemente.

Por que Abrir Portas de Escuta?

Por que eu iria querer portas de escuta abertas? A maioria das pessoas não precisa deles. Portanto, eles não têm reclamações sobre portas de escuta fechadas. E, claro, em uma democracia, apesar dos princípios eruditos, a realidade prática é que apenas a maioria importa.

É uma liberdade estabelecida que todos e cada um possam se comunicar sem deixar ou impedimento. Com portas de escuta fechadas, a única maneira de as pes­soas fazerem isso é por meio de vastos servidores centrais de e-mail corporativo e de mídia social — praticamente todos de propriedade americana — que podem interceptar, monitorar, analisar, examinar e armazenar indefinidamente suas com­unicações. E se puderem, farão.

Com portas de escuta bloqueadas, o indivíduo não pode ter uma voz livre e aberta. Ele só pode se expressar publicamente por meio de servidores de mídia social de propriedade privada que moderam o que ele pode ou não dizer de acordo com as regras do grupo ou as políticas e preferências do proprietário corporativo. O pensa­mento radical não enclausurado é assim suprimido. A diversidade do desenvolvi­mento humano é sufocada.

"Mas isso importa?" minha irmã uma vez retrucou. Sim, pelas razões apresentadas aqui, aqui e aqui. A verdade é que a maioria das pessoas não tem a liberdade que pensa ter. E está sendo progressivamente corroído pela vigilância estatal não decl­arada e pelos interesses corporativos.

Com portas de escuta abertas, as pessoas têm liberdade e privacidade para se comunicar diretamente ponto a ponto: computador a computador, sem passar por nada além de roteadores de backbone burros. Isso é privado. Mas se quiser mais privacidade, você pode criptografar suas comunicações conforme elas passam pela Internet.

Mas essas não são as únicas razões para a necessidade de portas de escuta abertas. Considere o seguinte cenário:

Estou no Brasil. Meu colega está na França. Estamos fazendo experiment­os de moon-bounce. O computador dele precisa saber quando meu com­putador atingiu o moon-lock. Meu computador precisa saber quando o computador dele atingiu o moon-lock. Um programa em cada um de nos­sos computadores envia um sinal para o outro quando atinge o moon-lock. O computador dele recebe o sinal do meu computador porque ele tem portas de escuta abertas. Mas meu computador não pode receber o único pacote UDP contendo seu sinal porque meu ISP decidiu arbitraria­mente bloquear todas as 65.535 portas de escuta.

Este é um caso um tanto obscuro. No entanto, existem inúmeras outras situações em que portas de escuta abertas são essenciais para usos legítimos da Internet. Por exemplo, um usuário que trabalha em uma situação de home office não poderá, em muitos casos, acessar o banco de dados proprietário de seu empreg­ador, a menos que tenha as portas de escuta apropriadas abertas. Então ele não pode fazer o seu trabalho. Isso é especialmente verdade quando o usuário home office precisa estar constantemente ciente das alterações em tempo real no banco de dados de seu empregador, como na reserva de ingressos.

Além disso, um endereço IP dinâmico complica muito o processo de escuta. Junta­mente com as portas de escuta bloqueadas, é uma grande adversidade para o trab­alho home office. Isso é aceitável na atual tendência para o emprego flexível?

Assim, parece que, no que diz respeito ao acesso à Internet, existem duas classes de usuários: aqueles com portas de escuta abertas e aqueles que estão bloque­ados. Aqueles com IPs fixos e aqueles com IPs dinâmicos. O privilegiado e o com­um. Aqueles que importam e aqueles que não importam. E os que não o fazem só podem se comunicar com a licença dos que o fazem. Pelo que entendi, isso é diret­amente contrário ao espírito do Marco Civil da Internet. Mas é a presente realidade concreta. Ele precisa mudar.

O Papel Adequado do ISP

O verdadeiro papel do Provedor de Serviços de Internet [ISP] é fornecer ao usuário da Internet uma conexão bona fide com a Internet, conforme descrito anterior­mente. Ao fazê-lo, o ISP não deve distinguir entre os usuários a não ser pela velo­cidade de transmissão de dados que cada um contrata para comprar.

A função do ISP é simplesmente transportar pacotes de dados de Protocolo de Internet [IP] de um usuário de origem para um usuário de destino: nada mais. Ao fazer isso, o ISP deve entregar cada pacote IP enviado ao seu destino especificado, sendo permitida a perda de pacotes apenas devido a time-outs e condições de tráf­ego intenso, caso em que o pacote pode ser reenviado até que chegue. O conteúdo do pacote não é da conta do ISP.

Como tal, o ISP não tem jurisdição para olhar em qualquer lugar dentro de um pac­ote IP além de seus dados de cabeçalho para determinar seu destino [e, em alguns casos, seu tempo de vida]. As configurações dos sinalizadores do pacote IP não fazem parte disso. Consequentemente, as informações para implementar o blo­queio de portas estão além da jurisdição do ISP. O Marco Civil da Inter­net: Seção I: Da Neutralidade de Rede vale a pena reiterar:

Art. 9º O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação.
...
§ 3º Na provisão de conexão à internet, onerosa ou gratuita, bem como na transmissão, comutação ou roteamento, é vedado bloquear, mon­itorar, filtrar ou analisar o conteúdo dos pacotes de dados, respeitado o disposto neste artigo.

Qualquer coisa além disso é flagrante interferência privada nas comunicações públicas. É como enviar uma carta a um amigo e o serviço de correio abrir sua carta, lê-la e decidir arbitrariamente se a entrega ou não. Assim, o bloqueio de portas e o endereçamento dinâmico também constituem flagrante interferência privada nas comunicações públicas.

Se tal prática anti-social continuar por muito tempo, a confiança do público na Inter­net como meio de comunicação rapidamente se deteriorará e apodrecerá. En­quanto isso, infratores de direitos autorais, criminosos e terroristas há muito terão encontrado outros meios de comunicação.

Uma Questão de Communicação

Um problema totalmente separado dos ISPs hoje em dia é a comunicação com os clientes. É uma bagunça. Ao longo da última década, fiquei dolorosamente ciente de uma grande deterioração nos meios pelos quais posso relatar uma falha ao meu ISP. Antigamente, eu apenas discava um número fornecido em meu folheto do usu­ário, que era imediatamente atendido por um técnico a quem eu poderia descrever a falha e ele a corrigiria. Hoje não.

Hoje, o infeliz cliente tem que fazer todo o trabalho de categorizar a natureza da falha percorrendo uma convolução de menus automatizados. Alguns ISPs se ref­erem a eles como IAs [Inteligências Artificiais] ou AVs [Assistentes Virtuais]. Mas eles não são nenhum dos dois. São apenas listas automatizadas, normalmente em 3 níveis que fornecem cerca de 350 opções.

No entanto, embora as opções da lista sejam escritas em uma língua natural como o português, elas não possuem a vasta expressividade de uma língua natural. Você não pode simplesmente dizer o que gosta para descrever seu problema. Pelo contr­ário, essas listas automatizadas são apenas subconjuntos microscópicos da língua portuguesa, compreendendo não mais do que 350 declarações separadas. Assim, em comparação com o português de forma livre, sua largura de banda semântica — sua capacidade de expressar — é infinitamente pequeno.

Exemplo: Descrevo meu problema em português conciso: "Minha Internet caiu. Power ON, DS ON, US piscando, Online OFF, Ethernet ON."Isso diz ao técnico que a unidade óptica/coaxial no posto de rua não está recebendo e respondendo ao sinal upstream do meu modem e então tudo o que ele precisa fazer é consertar lá na rua.

No entanto, usando o menu automatizado no site do ISP [enquanto luto para ignor­ar a enxurrada contínua de anúncios chamativos que estão continuamente sendo empurrados na minha cara], o mais próximo que chego é que preciso de uma visita domiciliar de um técnico para o qual estarei carregada.

Mas os ISPs não estão sozinhos nisso. Eles apenas automatizaram a onipresente e notória idiotice burocrática conhecida como formulário de caixa de seleção, com o resultado igual e inevitável.

A Falta de Confiabilidade da Internet

Sofrendo com repetidos períodos de falha da Internet, decidi em novembro de 2015 começar a monitorar rigorosamente meus períodos de falha da Internet. O resumo até o momento é o seguinte:

  1. 96 dias do tempo de inatividade total de 17 de novembro de 2015 a 20 de setembro de 2022, compreendendo 22 períodos separados de tempo de falha imprevisível não avisado, variando de 1½ horas a mais de 50 dias. [Oi]

  2. 49 dias de Internet intermitente a partir de 03 de agosto de 2022, sem nunca saber quando meu sinal seria cortado novamente. [Oi]

  3. 24 days sem Internet desde que a Oi cortou o sinal definitivamente em 21 de setembro de 2022 sem qualquer indicação de quando o serviço de fibra ótica estaria disponível nas minhas instalações para substituir o antigo ser­viço ADSL, [Oi]

  4. 49 dias com surdo conexão de Internet da Claro NET desde sua instalação em 15 de outubro a 03 de dezembro de 2022. [Claro NET]

  5. 16 dias de falha [conexão totalmente morta] de 12 DEZ 2022 a 27 DEZ 2022. Observe que esse tempo de inatividade começou apenas 9 dias depois que a Claro NET resolveu o problema das minhas portas de escuta bloqueadas. [Claro NET]

A partir disso, acho verdadeiro e seguro afirmar que a Internet é um meio de comunicação totalmente não confiável, especialmente para intimações oficiais e fiscais.

Não sendo capaz de fazer o que deveria fazer durante esses períodos, em vez de não fazer nada, natural e compreensivelmente passei meu tempo escrevendo sobre por que não podia fazer o que deveria estar fazendo.

Portas Desbloqueadas: Mas Apenas Algumas

Em relação às escutas bloqueadas [item 4 acima] interpus recurso à ANATEL. Como resultado, algumas portas de escuta foram abertas por mim [o usuário]. No entanto, as portas padrão ainda estavam bloqueadas e meu endereço IP ainda era dinâmico. Portanto, eu ainda não tinha uma bona fide conexão com a Internet que pudesse ser usada interativamente ponto a ponto da maneira como a Internet dev­eria funcionar originalmente. Mas com isso, eu poderia pelo menos trabalhar. Após a conclusão do meu recurso para a ANATEL, eu tinha apenas 1 dos 3 serviços [pelos quais eu tinha que pagar mensalmente] realmente funcionando, sem perspectiva de melhoria:

ANTES DO APELOAPÓS DO APELO
1 O modem não pode ser configurado pelo usuário e todas as portas 65535 estão bloqueadas. Modem configurável pelo usuário, com todas as portas, exceto algumas, que podem ser abertas.
2 O telefone fixo não funciona. O telefone fixo ainda não funciona.
3 O streaming de TV não funciona. O streaming de TV ainda não funciona.

É claro que a Claro NET ainda me cobrou pelo telefone fixo e pelo serviço de streaming de TV. A desculpa foi que esses serviços são adições gratuitas e que o preço é estritamente apenas para a conexão à Internet. Isto ainda que o serviço telefónico fixo seja cobrado à parte. Mas obviamente a Claro NET não é uma socie­dade benevolente. Tudo o que ele fornece é carregado no preço final do pacote de serviços. O negócio 'grátis' é apenas um truque de vendas enganoso. É mentira.

Portanto, não posso dizer com sinceridade que a situação foi resolvida. Nesse caso, como em casos anteriores, o custo para mim como usuário não foi insignificante. Por que eu deveria suportar isso? Por que devo recorrer à ANATEL para tentar obter meus direitos básicos do Marco Civil da Internet? Os ISPs não deveriam cumprir os direitos básicos de cada cliente como algo natural, sem que eles tenham que ser aplicados? Eu penso que sim.

Ressalte-se que a conexão à Internet finalmente fornecida a mim pela Claro NET, mesmo com as portas de escuta já abertas, ainda não atende aos requisitos mínimos necessários e suficientes estabelecidos pelo Marco Civil da Internet. Mas não podemos esperar milagres.

Mas os problemas com o Claro NET estavam apenas começando. Em poucos dias, minha conexão com a Internet parou de funcionar completamente [item 5 acima] e a Claro NET atrasou 16 dias antes de enviar técnicos para consertar.

Uma Fraqueza do Marco Civil

O Marco Civil da Internet é um trabalho louvável. Não lhe falta nada em si. Não ob­stante, penso — como resultado da minha experiência — que é extremamente difícil e, em muitas circunstâncias, impossível de aplicar. No mínimo, alguns de seus requisitos são extremamente vulneráveis aos interesses privados dos ISPs e daqu­eles que os controlam e os influenciam, deixando assim o usuário individual ex­posto a investigações inadequadas e mineração de dados para fins comerciais ou políticos.

Além disso, a maioria das disputas sob o Marco Civil da Internet seria inevitavel­mente entre um usuário individual e o provedor corporativo de serviços de Internet: partes com grande disparidade de tamanho, poder, influência e recursos finan­ceiros. Na maioria dos casos, um usuário individual não poderia sequer pensar em levar um ISP ao tribunal. E eu, por exemplo, acho tanto a ANATEL quanto o consum­idor.com.br um tanto difíceis de usar e de efeito limitado devido à pequena largura de banda semântica de suas interfaces de usuário.

A lei, claro, é necessária. Mas, para poder cumprir na prática o seu papel universal­mente como instrumento eficaz de justiça, precisa de ajuda. Essa ajuda necessária e suficiente é de dois tipos e cada uma está potencialmente disponível em sua respectiva fonte.

A primeira é a vontade pública. Cada indivíduo deve ser educado para ver o bene­fício universal que advém da obediência ao Marco Civil da Internet — incluindo não apenas o grande número de usuários da Internet, mas também o menor número de provedores de serviços de Internet, seus funcionários e diretores. Isso provavel­mente só será alcançável ao longo de várias gerações e sua realização, portanto, está sob a jurisdição da educação.

A segunda é o projeto do sistema. Vejo com clareza como mudanças topográficas e processuais relativamente simples podem tornar muitos dos requisitos do Marco Civil da Internet impossíveis de serem violados. Estas, conseqüentemente, não precisariam ser aplicadas. Mas essa é uma história longa e bastante técnica.

Uma Questão de Inclusão Social

Há milhões de pessoas no Brasil que são extremamente pobres. Por outro lado, os elementos dominantes da sociedade moderna a projetaram de tal forma que, para que o indivíduo agora possa cumprir suas obrigações mínimas necessárias e sufici­entes e exercer seus direitos básicos, ele deve ter uma conexão com a Internet.

Marco Civil da Internet Capítulo II: Dos Direitos e Garantias dos Usuários
Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, ...

Consequentemente, deve ser incumbência da sociedade tornar o acesso à Internet bona fide seja gratuito ou confortavelmente acessível para os mais pobres.

Meu serviço atual, Claro NET Virtua, não atende a essa necessidade. Portanto, tenho que perguntar: existe mesmo um serviço de acesso à Internet bona fide, disponível universalmente e acessível, que atenda a essa necessidade? E se sim, por que não consegui encontrá-lo e assiná-lo? Existe mesmo uma especificação formal de tal? Todos os ISPs comerciais não deveriam ser legalmente obrigados a fornecer esse serviço básico? Acho que deveriam.

Meu principal esforço no desenvolvimento de software sempre foi desenvolver para o usuário menos capaz com o acesso mais lento à Internet. Este é, nos dias de hoje, o princípio primordial para a inclusão social.

No outro lardo, ao contrário dos requisitos do Marco Civil da Internet, para ser justo ao usuário e ao provador, penso que uma conexão a Internet não pode ser 'essencial ao exercício da cidadania'. Como é bastante evidenciada pela minha exp­eriência através dos ultimas 18 anos, a Internet é uma infra-structura extrema­mente complexa, que é sujeita à falha frequente e imprevisível por razoes além do controle e justa culpabilidade dos usuários e dos provadores. Estamos atualmente na época chuvosa em que chuva forte pode penetrar os roteadores de agregação e conversores fibra ao coax nos postes na rua. Coax e fibra são também sujeitos fre­quentemente ao roubo organizado. Consequentemente, a repente falha da conexão a Internet da qualquer pessoa através de uma ou duas semanas é, em geral, a culpa de ninguém.

Não obstante, na sociedade moderna, uma pessoa é considerada ser culpável e é consequentemente penalizada se ela não realizar suas obrigações legais, fiscais e civis, que precisam contínua e confiável acesso a Internet. Por exemplo, minha ISP, Claro NET manda faturas só via a Internet. Se o serviço dela falha, I não posso receber a fatura ela manda para mim. Então eu não posso pagar a fatura. Consequ­entemente, sofro cobrança de juros e multa por que meu pagamento está atrasado quando ela reintegra a minha conexão a Internet. Isto é justo para mim? Uma multa é uma punição. O que eu fiz errado que eu devo ser punido? O mesmo aplique aos submissão e pagamento de Imposta da Renda, mais muitos outros obrigações em sociedade moderna. É injustiça em flagrante. E isto é que causa a lei sofrer justa­mente uma erosão de respeito popular e justificar violação e evitamento das suas princípios. A lei tem obrigação ser justa.

Conclusão

Os ISPs devem se tornar o que a lei exige que sejam: transportadores transparentes de pacotes IP da origem ao destino. Sua principal diretriz deve ser um serviço público imparcial que trate todos os usuários da mesma forma: não a maximização do retorno sobre o investimento dos acionistas. Por esta razão, somada à sua flag­rante atitude autoritária em relação aos usuários, a administração de uma infra­estrutura pública vital e crítica como a Internet nunca deve ser confiada a mãos privadas. Esta não é uma declaração política. É uma observação sistêmica.

A demarcação da jurisdição do ISP deve ser claramente definida. Seu limite entre o ISP e o usuário final deve ser uma simples ponte de nível de link, que converte entre o link ponto a ponto do ISP e uma interface de usuário final padrão [como RJ45 Ethernet]. O equipamento do usuário final [computador isolado ou roteador LAN] deve ser de propriedade — e totalmente sob o controle — do usuário final.

Eu gostaria de ver o surgimento de uma especificação padrão nacional — ou mes­mo mundial — para uma unidade terminal de usuário final, baseada no princípio "seguro para o futuro" de componentes ativos substituíveis [cartões de circuito im­presso, etc.] montados em um padrão invólucro de plástico de carbono de alto im­pacto com controle embutido de seu ambiente interno. Essa especificação padrão pode então ser abstraída para formar uma estrutura padrão para adaptação a tec­nologias futuras, sempre sendo capaz de retroceder para funcionalidades mais anti­gas para lidar com períodos de condições de comunicação deterioradas.

Mas por enquanto no Brasil, [além do eterno barulho infernal] existem 3 inconven­ientes difíceis de evitar: banheiros entupidos, pias entupidas e portas de escuta bloqueadas; mais, também, extensivas e imprevisíveis quantidades de disrupção e downtime. Para mim, é igual trabalhando sub de condições de batalha, em que alguma ou toda da funcionalidade pode ser destruída por ação inimigo no qualquer momento.

Preciso aceitar que sou um estrangeiro em um país estranho e por isso devo ser grato para que posso ter. Consequentemente, minha ambição agora é comprar uma conexão a Internet em que a provedora condescende fornecer todas portas abertas por escutar menus as padrões bloqueadas: 21, 25, 53, 80, 110, 135, 136, 137, 138, 139, 443, 445, 587, 1434. Uma conexão a Internet que conforme a Marco Civil da Internet é um sonho fútil.

Cabe, portanto, a qualquer um que esteja pensando em montar qualquer empre­endimento que envolva trabalho home-office com tecnologia da informação no Brasil, que considere seriamente minha situação aqui. Meu veredicto final é que o Brasil não é o lugar para trabalhos que envolvam outra coisa que não seja o uso trivial da Internet.

A série de ensaios a seguir documenta exaustivamente minhas experiências com cada ISP que experimentei.


© agosto de 2015, janeiro de 2020, novembro de 2022 Robert John Morton